Circuito feminino de R6
Primeira e segunda etapa
A primeira etapa aconteceu em março, sendo que a final foi entre Fury, campeã do circuito passado, e a vice-colocada, Black Dragons. A história acabou não se repetindo, e teve como vencedora a BD que conquistou 100 pontos, além da premiação de vinte mil reais.
Nos dias 29 de abril a 01 de maio ocorreu a segunda etapa do Circuito Feminino de Rainbow Six Siege. Essa temporada do torneio foi garantida pela Black Dragons que, novamente, ganhou e se consolidou com o total de 200 pontos no campeonato.
Inicialmente, o torneio contou com seis times:
- Black Dragons;
- Cinderellas;
- Fury;
- RDW Esports;
- INTZ;
- Supernova.
Participaram as mesmas equipes nas duas etapas, entretanto o enredo foi surpreendente na versão mais recente.
Os times classificados para as semifinais foram Cinderellas, INTZ, Fury e Black Dragons. A equipe Cinderellas se manteve invicta, totalizando 14 pontos, seguida da Fury com 10 pontos, Black Dragons com 08 e INTZ com 06 pontos.
Contudo, no último confronto, as então invictas acabaram perdendo de 2×1 para a Black Dragon. Anteriormente, as equipes já haviam se enfrentado, sendo que as vencedoras foram as Cinds no mapa Clubhouse por 7×3.
Terceira etapa 2021
Cinderellas fora do Circuito Feminino de Rainbow Six
Nessa fase, decorreu uma baixa no número de equipes participantes. No início de junho, no Twitter das Cinderellas, foi divulgado que haveria uma reformulação na line de Rainbow Six Siege.
Isto acarretou na não participação das jogadoras e da organização neste campeonato. Atualmente, as vice-campeãs da segunda etapa se encontram sem filiação. Ainda não foi compartilhada a nova composição do time.
O desenrolar da competição
Com a ausência de um dos times mais fortes, a Fury se manteve no topo com 12 pontos. Já a Black Dragons ficou em segundo lugar, totalizando 09 pontos, seguido de Red Wolf e Supernova com 06 pontos.
No sábado, o destaque ficou para a BD, que conseguiu virar de 5×1 e ganhar das intrépidas. Já no domingo, foi dia de decisão, houve a semi e a final.
As semifinais foram entre Fury x Supernova, e Black Dragons x Red Wolf. Os times que levaram melhor foram a Fury e a BD, ambas ganharam os dois mapas com tranquilidade.
O confronto final, que tinha tudo para realmente ser uma md3 (melhor de três mapas) completa, na realidade, foi apenas uma md2. Novamente, a BD sai com a vitória e abate a Fury, sendo a grande campeã da terceira fase do Circuito feminino.
Por outro lado, a INTZ fechou o campeonato sem pontuar. Vale a ressalva que o placar das partidas jogadas por elas foi de 5×7, com jogos definidos nos detalhes, as finalizações foram cruciais.
Consolidação do cenário feminino de R6 e seus entraves
Ao contrário do que muitos acreditam, o cenário feminino dos eSports sempre existiu.
E, o fardo de ser ou se tornar mulher é indissociável a nós, seja nas esferas sociais e virtuais. Infelizmente, o fortalecimento do mercado não depende exclusivamente das jogadoras, há algumas barreiras que dificultam muito o progresso.
Recentemente, com a terceira fase do Circuito feminino de R6, foi possível observar a reprodução de ataques e comentários ofensivos referente às partidas jogadas por mulheres. As críticas carregadas de ódio e desinformação eram desde o nível do jogo até a dificuldade de assistir aos campeonatos.
Não é somente nos games que nos deparamos com tais opiniões. Em outras modalidades femininas dos esportes tradicionais também é recorrente ouvirmos este discurso que desacredita no desempenho do cenário escrito por mulheres.
Há um texto das Dibradoras, redigido pela jornalista Renata Mendonça, que pontua alguns porquês do futebol feminino ser lido como “chato”. E podemos refletir sobre vários pontos que ela descreveu e transpor para o contexto de R6.
Ausência de investimento
É frequente presenciar inúmeros campeonatos mistos, majoritariamente compostos por homens. Tal como, há mais torneios masculinos do que femininos, o que acarreta numa diferenciação nos número de visualizações, compartilhamentos e até mesmo engajamentos.
Em cenários hipotéticos, é mais provável que uma organização de esportes eletrônicos invista numa line masculina de outro game, do que na criação de um time feminino. Uma das razões dessa probabilidade é que acredita-se que o cenário dos homens é mais rentável, em comparação ao das mulheres.
Outro ponto é a falta de interesse, seja da torcida, dos times e até dos organizadores de campeonatos, que ressalta os obstáculos para a consolidação do cenário feminino. Jogadores e line masculinas acabam fazendo parte dos assuntos mais comentados nas redes sociais, ao passo que jogadoras e campeonatos femininos são esquecidos.
Contudo, como irá ocorrer a edificação do cenário feminino se não há uma preocupação em investir e acreditar no mesmo?
No Força Tarefa, com a jogadora “Lara”da Black Dragons, ela revelou que várias meninas acabaram desistindo do sonho de jogar profissionalmente em função da ausência de estrutura, apoio e retorno financeiro.
Nível de jogo das meninas
Ainda é recorrente ver mensagens retratando que o nível dos jogadores é “superior” ao das jogadoras.
Isto não deve ser encarado como verdadeiro, de prontidão. Não é possível compararmos os cenários, sem levar em consideração a história e os entraves do cenário feminino.
Sabemos que esse está lutando pela conquista de novos espaços, que antes eram lidos somente como masculinos. Em muitos casos, o início das meninas no competitivo é tardio, visto que não há estímulos do mercado, ou mesmo há uma expectativa e confiança de que elas se tornem jogadoras profissionais de esportes.
Elas treinam e se esforçam como qualquer outro jogador, o fato delas serem mulheres não implica num rendimento menor. A técnica e a tática vão se alinhando, e são conceitos que se desdobram conforme os jogos, campeonatos e até mesmo experiência de jogar com outros níveis de jogadores
Desenvolvimento é contínuo
Um bom desempenho não ocorre da noite para o dia, é algo processual!
Demorou, aproximadamente, cinco anos para o cenário brasileiro masculino se consolidar no território de Rainbow Six. Nossos jogadores sempre resistiram!
Organizações foram criadas, a partir de sonhos e divagações, questionando os porquês de não nos enxergarmos à altura do “nível europeu”.
Menosprezavam o nosso estilo de jogo por ser diferente do convencional. Era dito que faltava técnica e que jamais os brasileiros conseguiriam apresentar uma boa qualidade em seus jogos.
Contudo, eles persistiram e surpreenderam outras pessoas que estavam presas às amarras do tradicionalismo e unicamente voltadas para um estilo de jogo. Tanto que, o Six Invitational 2021 contou com o Top 3 brasileirinho, com as equipes NIP, Liquid e Mibr.
Mais oportunidades aparecendo no RainbowSix
Neste ano ocorreu a Copa GirlsOnSix, iniciativa com o objetivo de movimentar e mobilizar o cenário feminino de R6. Tendo como principal objetivo oportunizar outros espaços, para que outras jogadoras e/ou organizações, que não conseguiram vagas para o Circuito, possam mostrar seu jogo e continuar ativas no mundo competitivo.
Lugar de mulher é nos games, e também no esports!
Esses sentimentos de “diminuição” e “desmerecimento” são partilhados por nós mulheres do cenário gamer. Durante os jogos do Circuito, houve vários comentários reproduzindo essa mesma lógica.
Isso nos angustia, mas também acaba servindo de combustível para continuarmos com nossos trabalhos e buscarmos dar nosso melhor. Quebrando assim com preconceitos e discriminações.
Karolina Florindo, formada em Psicologia e (quase) gamer. Demasiadamente empática, aprendiz da vida, que ama ler e escrever. Um pouco indecisa? Talvez, mas não consigo afirmar. Contudo, cheia das certezas que irá colaborar para um mundo mais igualitário e diverso.
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