Post thumbnail

Aproveitando a chegada do Halloween, vou contextualizar a ligação entre as bruxas e o movimento feminista. Para isso, vamos precisar voltar até a Idade Média, onde as bruxas foram caçadas! Mas por quê as bruxas foram representadas? Confira!

“Somos as netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar”

 

O FENÔMENO DA CAÇA ÀS BRUXAS

A caça às bruxas foi um movimento religioso, ideológico e social que perseguiu mulheres acusadas por magia negra e seitas satânicas. Aconteceu principalmente na Idade Média da Europa onde o poder da igreja ainda era muito forte e influenciou boa parte da sociedade. Estima-se que a Inquisição da época caçou às bruxas por heresia, torturou e matou quase 100 mil pessoas. As mulheres foram os maiores alvos na época por serem consideradas uma forte ameaça à igreja.  Nos séculos 16 e 17, as execuções eram realizadas em praça pública e os corpos queimados na fogueira. Além disso, também eram condenadas à prisão perpétua e apreensão de bens, o que ajudava os cofres religiosos.

A perseguição foi configurada como uma derrota histórica para dos direitos das mulheres e os anos seguintes foram de dominação dos homens sob as mulheres. As ideologias da igreja demonizou o controle da natalidade e a sexualidade não reprodutiva da mulher, foi implementada penas mais severas ao aborto, à contracepção e ao infanticídio. O movimento também foi político, pois as classes menos favorecidas foram praticamente massacradas com o discurso de serem hereges. Historicamente, essa foi considerada o maior genocídio de gênero.

Esse sistema foi tão eficiente que os próprios vizinhos e amigas entregavam mulheres para tentarem se livrar de possíveis acusações.

Um dos casos mais famosos foram as Bruxas de Salém. Aconteceu em 1962 nos Estados Unidos, quando a filha e a sobrinha do Reverendo ficaram doentes. Pressionado por líderes religiosos, três mulheres foram culpadas por terem causado a doença. Muitas outras pessoas foram acusadas por bruxaria, o caso ganhou notoriedade por cerca de 200 pessoas terem sido acusados sem provas e 20 delas, condenadas à morte.

Uma mulher e heroína francesa que participou da guerra dos Cem Anos, Joana D’Arc também foi considerada bruxa e queimada na fogueira com apenas 19 anos. Hoje sua história ainda é lembrada pelas feministas. 

E não tão distante, o Brasil e outros países também perseguiram mulheres consideradas bruxas. Foi o caso de Isabel Maria no Belém, acusada de conversar com o diabo em 1750. Incriminada por ter preparado um ritual para dominar homens, foi levada até Portugal para prestar depoimento.

Até o final do século 18, as mulheres foram expurgadas e submetidas a severas restrições sociais. Foi negado o controle sobre seus corpos, a maternidade foi transformada em uma obrigação e a reprodução tornou-se o lugar de confinamento. Foi preciso de muita luta e resistência para que as mulheres pudessem se reerguer.

Bruxas

Imagem via Pinterest

VOCÊ SABIA: O CHAPÉU DE BRUXA

O tão marcante chapéu de bruxa, na verdade eram usados por judeus, mas fez com que as pessoas associassem a hereges e bruxas. Foi no século 18 que a velha bruxa com chapéu pontudo foi imortalizada por artistas até os dias de hoje.

A ÍCONE DO MOVIMENTO FEMINISTA

A bruxa — que é considerada uma figura vilã em muitos desenhos infantis e uma forma de ofensa, hoje possui uma representação diferenciada no movimento feminista. As bruxas foram perseguidas por serem contra a sociedade e a doutrinação católica, por quererem ter a liberdade do seu corpo e útero. E hoje, as mulheres ainda sofrem as mesmas perseguições daquela época, o patriarcado e o machismo contribuem para uma sociedade que não só oprime mulheres, como objetificam seus corpos e também assassinam.

Uma das autoras que está mais engajada no assunto é Silvia Federici, autora do livro “Mulheres e a Caça às Bruxas”, revela que o campo moral ainda é de domínio ideológico do homem. O machismo tenta silenciar as mulheres, da mesma forma que ocorreu na Idade das Trevas. Por mais que as mulheres tenham conquistado alguns direitos, ainda hoje as fogueiras estão acesas. E são outras formas de fogueira. As caças às bruxas não acabou em 1700. Ela infelizmente ainda existe. 

 

“E o feitiço mais efetivo para isto é nos assumirmos e nos reconhecermos como bruxas: feministas.” Não Me Kahlo.

 

Algumas indicações de livros para quem se interessar mais no assunto. Hocus Pocus! ♥

 

>> História da Bruxaria, Jeffrey B. Russell, Brooks Alexander (2019)

>> O Livro Completo de Bruxaria, Raymon Buckland (2019)

>> Mulheres E Caça Às Bruxas, Silvia Federici (2019)

>> Calibã e a Bruxa – Mulheres, Corpo e Acumulação Primitiva, Silvia Federici (2018) 

>> Escaping Salem: The Other Witch Hunt of 1692, Richard Godbeer (2005) 

Para se inteirar mais sobre o universo das mulheres e o entretenimento continuem acompanhando o You Go Girls!

 

 

 

 

Adicionar comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *